Os bastidores do clássico entreFluminense e Vasco já estavam quentes semanas antes de a bola rolar, muito em razão da disputa pela concessão do Maracanã que mobilizou dirigentes e torcedores, e se desenrolou até em pedidos de paz dos clubes nas redes sociais. Felizmente, o que se viu ontem no estádio foi um duelo muito disputado na bola, que exacerbou as características mais efetivas dos rivais neste Brasileiro: do lado do tricolor, a construção e o volume de jogo. Do cruz-maltino, a capacidade de se defender e ser muito competitivo em transição. No fim, um entusiasmante 1 a 1.
Depois de uma decepcionante derrota para o Bahia em São Januário, a impressão de que o Vasco funcionou melhor atuando de forma reativa — como fez contra Atlético-MG e em boa parte da partida contra o Palmeiras — do que propositiva foi inevitável. No clássico, ela se reforçou, já que o gol que abriu o placar saiu em questão de segundos.
Numa sequência de jogos em que o Fluminense parecia cada vez mais afinado, uma rara falha individual, fatal para a construção de seu jogo, mudou o primeiro tempo: aos 56 segundos, Fábio errou o passe para a Alexsander dentro da área e viu Alex Teixeira ganhar e rolar para Pedro Raul concluir e fazer seu segundo gol neste Brasileirão.
O lance acontece num tipo de risco ao qual o time de Fernando Diniz está sempre exposto, mas que faz parte das ideias essenciais de construção de pé em pé e que, resultado à parte, pouco abalou a convicção da equipe no restante da partida. Foi a primeira vez em quase um ano que o tricolor sofreu um gol em erro nessa saída de bola — a última vez havia sido em junho de 2022, na vitória por 5 a 3 sobre o Atlético-MG.
O cruz-maltino, que nada tinha a ver com isso, aproveitou a vantagem que obteve desde cedo para aplicar a reatividade de forma inteligente: explorava bem os espaços que o rival deixava e tentava sair em velocidade com Pec e Alex Teixeira após roubar a bola pelo meio — que teve a marcação reforçada pela volta do volante Rodrigo ao time titular. Mas não conseguiu fazer muito mais que isso.
O volume de jogo era praticamente todo do Fluminense na segunda etapa, que já tinha terminado o primeiro tempo com 75% da posse de bola e oito finalizações, contra cinco do Vasco — no fim, foi a 79% de posse e 23 finalizações contra oito cruz-maltinas. Bem no jogo, Arias levava muito perigo pela direita. Ficou prejudicado pela saída de Samuel Xavier, companheiro de corredor, que deixou o jogo ainda no primeiro tempo com lesão. Mas seguiu como principal foco criativo do Flu até o fim.
Foi justamente dessa faixa direita, dos pés do colombiano, que saiu o gol de empate, num lançamento para Germán Cano. Com muito recurso, ele bateu de primeira, viu Leo Jardim fazer boa defesa e Lima não perdoar na sobra de bola.
A partir dali, o tricolor fez o que sabe de melhor. Chegou muito perto de marcar mais com Cano, Nino e Marcelo, numa pressão insaciável engatilhada muito em parte pela alteração de Diniz, que populou o ataque com John Kennedy no lugar de Felipe Melo, recuando André praticamente ao papel de zagueiro.
O Vasco não estava morto: as entradas de Eguinaldo e Figueiredo deram mobilidade ao contra-ataque do time de Maurício Barbieri, que chegou perto, mesmo com muito menos chances, de fazer mais um. Mas deve o resultado, em boa parte, ao goleiro Leo Jardim. Um dos grandes nomes da temporada até aqui, ele fez várias grandes defesas para evitar o segundo gol tricolor.