Sampaoliviu um "Flamengo de verdade e com autoridade". De fato assim seus comandados se portaram no primeiro Fla-Flu válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil, nesta terça-feira. Não aproveitaram mais uma vez a superioridade numérica de jogadores por longos minutos e ficaram no 0 a 0, mas levaram esperança a um torcedor que também foi muito participativo num dia de atípica inferioridade na arquibancada do Maraca
Pressão faz Flu parar o jogo por conversas
O Flamengo foi amplamente dominante no primeiro tempo. Quase abriu o placar logo no primeiro minutos e não se cansou de ser vertical. Houve variedade de repertório. Explorou a velocidade e a profundidade de Wesley, que não conseguiu ser efetivo.
Jogou tanto por fora quanto por dentro com meio-campistas de muita capacidade técnica, como Pulgar, Gerson, Arrascaeta e Everton Ribeiro. E contou com um Thiago Maia atento e preciso no combate. Dessa forma, amassou o Fluminense na primeira etapa.
Com 25 minutos, o Flamengo tinha sete finalizações contra zero do Fluminense. Uma de Gerson, em que ele ganhou a frente de Nino depois de sair muito de trás, fez os tricolores organizarem duas rodinhas de conversa para tentarem entender o que fazia os rubro-negros sobrarem em campo. O time que pratica o melhor futebol do Brasil sob orientação de um grande treinador estava atônito e acuado.
Antes disso já tinha colocado bola na trave com Gabigol em bela achada de Pulgar com passe vertical, um rebote desperdiçado por Arrascaeta, bela letra de Gerson para Ayrton Lucas dentro da área e uma disposição impressionante de todos na marcação.
A síndrome da superioridade numérica reaparece
O Flamengo voltou do intervalo com a mesma postura e rapidamente conseguiu uma vantagem capaz de dar muita confiança ao time. Após lindo passe de Arrascaeta, Gabigol botou na frente e foi atingido com violência por Felipe Melo, que acabou expulso após consulta de Anderson Daronco ao VAR.
O vermelho exibido ao conhecido desafeto dos rubro-negros era a senha para o time tomar conta do jogo. A torcida do Flamengo estava em festa e o provocou bastante na saída do campo. Para completar, no primeiro lance após o reinício da partida, uma oportunidade cristalina: Gabigol faz belo lançamento na área, Léo Pereira desvia, e Arrascaeta, com muita liberdade, aparece para cabecear.
O uruguaio calcula errado e manda por cima do gol. É o tipo do lance que mudaria a história do jogo. É também a última chance em que um rubro-negro teve tempo e - muito - espaço para definir.
Depois disso, o Flamengo cai no jogo do experiente Fluminense, que tem conseguido enervar o rival e atenuar prejuízos. Na primeira partida da final estadual, o Fla abriu 2 a 0 aos 25 do segundo tempo. Dois minutos depois, Samuel Xavier foi expulso, mas os tricolores tiveram cabeça no lugar para esfriar jogadas e diminuir o ímpeto rubro-negro. Mantiveram, assim, o placar e viraram na finalíssima.
Gabigol vacila logo duas vezes diante da armadilha tricolor. Primeiro simula uma agressão de Manoel que não aconteceu. Depois corre o risco de ser expulso ao pisar na perna de Ganso. Somente nessas duas situações o Fluminense ganhou preciosos minutos, cozinhou o jogo, e viu uma torcida do Flamengo que estava em êxtase arrefecer o caldeirão que havia criado.
O Rubro-Negro esbarrava em duas barreiras formadas por Fernando Diniz e demorava a finalizar. Ainda assim, Ayrton Lucas e Matheus França obrigaram Fábio a fazer grandes defesas. Ayrton cedo, aos 26 minutos. França já aos 51.
A ineficiência para aproveitar a superioridade numérica, algo que já acontecera contra Botafogo, Racing e Bahia, quase provocou o pior. Por pouco Santos não tomou um frango no fim. Por isso a importante de ser mais contundente diante da balizar rival precisa ser cobrada novamente.
Por que não Victor Hugo ou Matheus Gonçalves?
Apesar do frustrante 0 a 0 num jogo em que teve um jogador a mais por 49 minutos - contando os acréscimos -, a atuação do Flamengo merece elogios. Foi protagonista na maior parte de um jogo contra um poderoso adversário que vem lhe causando problemas constantes.
Há ponderações, porém? Sim. A entrada de Vidal é bastante questionável. Apesar do inegável poderio técnico, seu ritmo não condiz com o que o Flamengo precisava diante de uma retranca. Victor Hugo, jogador que já atuou como 10 e até mesmo na função de atacante em grande parte de sua trajetória pela base, estava disponível. O driblador, habilidoso e agudo Matheus Gonçalves também.
Apesar da escolha equivocada - na opinião do autor deste texto -, a decisão por Vidal não inviabiliza o progresso de Victor no Flamengo. Sampaoli está animado com o jovem de 19 anos e garante que continuará o utilizando.
- As escolhas são de acordo com o que penso do jogo. Eu penso que a partida me pedia um volante lançado na segunda linha. Arturo tem muita experiência desse tipo de jogo definitório, muita personalidade. E tentei essa possiblidade, mas Victor Hugo é um jovem que tenho muito em conta, um jovem que está crescendo muito e que vai competir com qualquer jogador porque está em um bom momento.
Gerson volta em alta, e Pedro faz falta
Animadora demais para o torcedor do Flamengo foi a volta de Gerson. Pela esquerda e com liberdade, terminou o jogo como o maior finalizador do time - com quatro, ao lado de Arrascaeta - e também liderou o quesito passes certos dentro da partida (54 de 58 tentados).
Os zagueiros Fabrício Bruno e Léo Pereira também tiveram atuações bem interessantes. Não apresentaram problemas no combate e ajudaram na construção ofensiva.
Pedro, porém, fez falta. Sua presença constante na área poderia ter feito a diferença no momento em que pontas, laterais e meias ganhavam o fundo para o cruzamento. O problema é que a recuperação da lesão sofrida no pênalti batido contra o Goiás, na última quarta-feira, ainda é lenta. Num intervalo de sete dias, o camisa 9 ainda não foi a campo e segue como dúvida para o jogo contra o Corinthians, domingo, pelo Brasileiro.
Cabia a vitória? Sim. Era importante aproveitar a superioridade numérica e não repetir a "síndrome" demonstrada contra Botafogo, Racing e Bahia? Claro. Mas fundamental também foi ver o Flamengo voltar a competir, ser melhor e provar que mantém a capacidade para fazer sua torcida voltar a sonhar com troféus.
Apesar de sabores e dissabores, o saldo da equipe de Sampaoli foi positivo. A vaga está em aberto, Pedro provavelmente jogará o duelo de volta, no dia 1º de junho, e a torcida do Flamengo será ampla maioria no Maracanã. Se houve quem desse ao Rubro-Negro um inesperado tratamento de azarão, tal cenário muda bastante para o Fla-Flu que apontará o classificado às quartas de final.