O Flamengo perdeu por2 a 1 para oInternacional, mas há motivos para criar expectativa positiva com Jorge Sampaoli. O Rubro-Negro teve cara de time, mostrou organização e cresceu coletivamente. Esbarrou, porém, em muitos erros bobos e sofreu gols em lances de escancarada falta de atenção. Ambos nasceram de arremessos laterais.
"Respeito pela bola" e Gerson em alta
De positivo foi o domínio territorial. Repetiu os 62% de posse de bola que havia registrado contra o Ñublense. Também voltou a finalizar 15 vezes, mesmo número atingido contra os chilenos. Mais do que números, o Flamengo mostrou que pode empurrar adversários para o campo de defesa e que é capaz de criar muitas chances de gol. Como Sampaoli pregara em treinamento, o time teve "respeito pela bola" e não abriu mão dela.
Outro ponto importante foi a grande partida de Gerson. Mais aberto pela esquerda e com liberdade para construir, sobrou num dia de muitos erros individuais da maioria dos companheiros. Exemplos de ações importantes durante o jogo não faltam. Fez um golaço em jogada que ele mesmo iniciou, achou Gabigol na área no fim do jogo com um "tacada de sinuca" e ainda foi muito bem na construção do gol de Gabi que foi anulado por centímetros.
Repertório e pressão no fim
Além do lindo gol de Gerson, o Flamengo criou pelo menos cinco grandes oportunidades no segundo tempo. Antes do gol, Gabigol, com muita liberdade, cabeceou para fora cruzamento perfeito de Everton Ribeiro. O próprio Ribeiro depois chutou com muito perigo de fora da área.
Com 1 a 1 no placar, foram três jogadas bem construídas. Marinho saiu da ponta para tabelar com Wesley e França e chutar por cima da trave. Pouco depois, Gerson achou Gabigol com um lindo passe na cara do gol, mas Keiller saiu bem e abafou o atacante. Um minuto antes da virada, Matheus França carimbou a trave em cobrança de escanteio bem executada por Cebolinha.
E isso tudo sempre com a bola no pé. Com um time mais leve, o Flamengo deu indícios de que o gol da vitória sairia a qualquer momento, mas a falta de "contundência nas áreas" citada por Jorge Sampaoli na coletiva pós-jogo cobrou seu preço.
A grande verdade é que a derrota foi surpreendente, o Inter pouco agredia o Flamengo.
Desatenção e coleção de erros nos gols
Apesar dos elementos positivos destacados, a análise dos gols colorados precisa ser feita de forma detalhada. Impressiona a quantidade de erros de diferentes jogadores (você vê os gols nascidos em laterais em vídeo colocado no topo da matéria).
No primeiro, o lateral é cobrado pela direita, Vidal acompanha Alan Patrick com muita passividade e não dá o combate. Wanderson passa às costas de Fabrício Bruno com muita tranquilidade e Léo Pereira chega para dividir sem muita força na sequência. O camisa 11 colorado, sem ser incomodado, toca no ponto futuro, e Ayrton Lucas vê de longe surgimento de Maurício para empatar o jogo.
Fora da área, quando a bola ainda estava com Alan Patrick, Thiago Maia, embora estivesse próximo, deixou Maurício solto para fazer a ultrapassagem. Ainda que Ayrton também tenha culpa pelo gol sofrido nas costas, ele acompanhava Luiz Adriano. Maia deveria ter seguido na cola do adversário.
No segundo gol, após lateral pela esquerda, Alan Patrick recebe no vazio sem ser incomodado por Gerson. O camisa 10 toca no meio de Rodrigo Caio e Ayrton Lucas, que só olham. Fabrício Bruno corre para trás ao ver Jean Dias invadir a área e abre os braços para dizer que não cometeu pênalti. Jean simula falta dentro da área na sequência ao ver Everton Cebolinha se aproximar, e a bola sobra para Maurício. Cebolinha ainda consegue chegar perto de Maurício, mas não fecha o ângulo para o chute. Resultado: Santos, adiantado e fora da posição, é encoberto, e o Inter vira o jogo.
Meio lento e atacantes apagados
Os volantes do Flamengo não se comportaram bem na partida. Thiago Maia mais uma vez apostou em passes mais simples, ora para o lado, ora para trás. Quando arriscou, quase saiu gol. Achou Everton Ribeiro em boa posição. O camisa 7 cruzou, mas Gabigol perdeu chance incrível.
Vidal, por sua vez, foi muito burocrático e abusou da lentidão. Parece sentir a questão física, o que o impede de exercer uma marcação mais eficaz.
O Flamengo se mostrou sem dinamismo à frente dos zagueiros e com volantes que não foram capazes de acelerar o jogo com passes diretos capazes de quebrar linhas.
Everton Ribeiro e Gerson, os construtores, foram os vértices do quadrado que melhor funcionaram, especialmente o Coringa. O problema é que Pedro e Gabigol não corresponderam. O primeiro esteve apagado e foi pouco acionado. O outro, apesar de indicar reação ao momento ruim com maior movimentação e chances criadas, desperdiçou chances cristalinas.
Reservas tomam decisões erradas
Dos quatro reservas que entraram, Matheus França foi quem esteve em melhor nível. Brigou, foi dinâmico dentro e fora da área e ainda carimbou a trave.
Marinho e Cebolinha, porém, tomaram decisões erradas repetidamente. Marinho deixou companheiros em impedimento em jogadas promissoras por falta de timing no passe. Em boa jogada que construiu com Wesley e França, finalizou mal.
Cebolinha, por sua vez, precipitou um chute quando tinha opção de passe na área, não conseguiu marcar com eficácia dentro da área no lance do segundo gol e mais uma vez não fez diferença.
Combate à falta de eficácia
Como disse Sampaoli em coletiva marcada por sinceridade e discurso direto, quem decide as partidas são os jogadores. Como tomaram muitas decisões erradas, diversas atuações individuais ruins comprometeram o coletivo.
Apesar do resultado desfavorável, a contundência de Sampaoli ao dizer que não abrirá mão de um estilo dominante dá esperança aos rubro-negros. A entrevista do argentino foi muito interessante e apontou para um caminho de melhora. Os objetivos dele são claros, e haverá um trabalho de repetição para melhorar a efetividade rubro-negra diante do gol e também uma aposta na questão física do time, que, segundo Sampaoli, não é a ideal no momento.