Não, não foi uma vitória como o torcedor tricolor vem se acostumando a ver em 2023, com o time amassando o adversário (provavelmente foi o jogo em que oDinizismo teve a sua menor posse de bola na temporada, com "só" 51%). Mas foi uma vitória na raça, lembrando os velhos tempos que levaram ao batismo de "time de guerreiros".
Os 2 a 0em cima do até então embalado Cruzeiro, em um Mineirão com mais de 55 mil torcedores na noite de quarta-feira, foram extremamente importantes para se recuperar no campeonato e na moral após o frustrante empate em casa com o Vasco. Ainda mais pela forma que foi: um jogo muito físico, em um gramado ruim e jogando 16 minutos com um jogador a menos (André foi expulso) e 11 minutos com dois a menos (após a lesão de Alexsander, quando já não havia mais substituições).
Os nove guerreiros em campo precisaram se desdobrar para segurar o abafa do Cruzeiro. E cumpriram a missão com sucesso. Durante o período que ficou com desvantagem numérica de dois jogadores, o Fluminense foi na base da vontade e não cedeu nenhuma chance de gol ao adversário. Mas no 11 contra 11 foi um duelo bem mais equilibrado do que aconteceu naquele 3 a 0 do Tricolor sobre a Raposa ano passado no Mineirão, pela Copa do Brasil.
O Cruzeiro teve bem mais volume: 28 finalizações e oito chances de gol, duas delas em um mesmo lance. No primeiro tempo, Neto Moura, aos 16 minutos, entrou em posição legal e mandou na rede pelo lado de fora; Bruno Rodrigues aos 30 desperdiçou um contra-ataque de três contra dois; cinco minutos depois, Cano salvou em cima da linha uma cabeçada de Luciano Castán. Na etapa final, Neto Moura de novo errou o alvo aos três minutos; Wesley tirou tinta da trave aos 12; Mateus Vital parou em Fábio aos 17; e Bruno Rodrigues perdeu duas cobranças de pênalti aos 32 e 34 (uma mandou voltar).
Por sua vez, o Fluminense era bem mais letal. Chegava menos, mas com mais perigo. Foram só 10 finalizações e cinco chances, sendo três delas em um mesmo lance, aos 42 do primeiro tempo: uma "sem querer", quando o chute de Marlon bateu na cabeça de Cano e foi na trave; na sobra, Oliveira salvou em cima da linha a finalização de Lima; e no rebote Ganso enfim aproveitou. Além disso, houve mais duas oportunidades claras: uma bomba de Cano aos 29 do primeiro tempo, em que podia ter rolado para Arias livre; e o gol de cabeça do argentino, livre na área aos oito minutos da segunda etapa.
O segundo gol tricolor que foi "puro suco" do Dinizismo: com a jogada começando com Fábio lá de trás, passando por nove jogadores diferentes até terminar no cruzamento certeiro de Guga para Cano. Mas na maior parte do jogo o Fluminense soube sofrer, principalmente sem se expor muito a contra-ataques. Feito diretamente relacionado a Alexsander. Que partidaça do garoto, que esbanja personalidade, fôlego e técnica para ser um leão no meio de campo tricolor com apenas 19 anos (a lesão no joelho esquerdo preocupa e será um enorme desfalque se precisar ficar de molho).
Lições sobre arbitragem
Transpiração e disposição à parte, o Fluminense também precisa tirar lições desse jogo com relação à arbitragem. Principalmente no que se refere ao aspecto emocional. A reclamação acintosa de André, mesmo sem ofensa (e mesmo que tenha razão), desta vez não comprometeu, mas pode prejudicar um resultado lá na frente. Há uma orientação na arbitragem em 2023 para ser mais rigorosa com destemperos desse tipo.
E com a bola rolando, é preciso evitar contatos por trás na área. Por mais polêmico que tenha sido a marcação do pênalti, a imagem mostra claramente que houve uma carga antes de Manoel nas costas de Bruno Rodrigues. Era o suficiente para atrapalhar o movimento de cabeceio do atacante do Cruzeiro? Não dá para saber. Mas em tempos de VAR (que nem foi o caso no Mineirão), movimentos assim abrem margem para esse tipo de interpretação.
Com a importante vitória no Mineirão, o Fluminense saltou para o terceiro lugar na classificação com 10 pontos e garantiu ao menos o G-4 na rodada, independentemente do resultado de Fortaleza x São Paulo nesta quinta. Os jogadores retornam ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira para iniciar a preparação para o próximo jogo, que será contra o Cuiabá no sábado, às 18h30 (de Brasília), no Maracanã, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro.