Tite não confirmou quem usará a braçadeira de capitão na Copa do Mundo, mas Thiago Silva deve ser o escolhido para representar o Brasil em campo a partir do jogo de estreia contra a Sérvia, na próxima quinta-feira. Se entrar em campo como capitão mais quatro vezes, o zagueiro de 38 anos ultrapassa Cafu e se torna o jogador a mais vezes ocupar o posto na seleção brasileira no torneio: 12 partidas.
Quando os demais jogadores precisam de uma referência para a função, é o veterano que apontam. No vestiário brasileiro, antiguidade é posto. E a própria imagem de Thiago, em seu quarto Mundial, fala por si. Quando a organização da Copa do Mundo foi entregar uma placa para as boas-vindas da seleção no hotel do Catar, o zagueiro do Chelsea que a recebeu.
— Quem vai ser (o capitão)? Thiago —, afirmou o companheiro de defesa Éder Militão, questionado ontem pelo GLOBO após a primeira atividade da seleção em Doha.
Dentre os titulares da equipe, o jogador é o mais velho, e só perderia a braçadeira para Daniel Alves, 39 anos, hoje reserva. Thiago tem 17 jogos com a braçadeira, contra 19 de Dani. O terceiro mais utilizado na função é Casemiro, com 10. O que dá aos demais jogadores a sensação de que a liderança vem de vários lados. E isso se comprova na prática.
— Todos nós somos capitães de uma certa maneira, dois mais novos aos mais experientes, consideramos todos capitães —, afirmou o lateral Alex Sandro
O recado é que se fosse Marquinhos, Danilo, até Neymar, não haveria problema algum. Vale lembrar que a capitania da seleção, assim como o trabalho da comissão técnica, passa por um momento de renovação, e precisará de novos candidatos ao posto em 2026.
O rodízio iniciado em 2016 e usado na Rússia não deve ter vez agora. Mas Tite precisará deixar jogadores enfileirados para usar a braçadeira caso Thiago seja substituído, e aí aparecem o já citado Casemiro, mas também Marquinhos e Neymar, os próximos da fila e titulares absolutos. O zagueiro do PSG vai para a sua segunda Copa do Mundo, agora como titular. É um líder técnico e maduro.
Por sua vez, Thiago Silva já representou o Brasil em oitos jogos de Copa do Mundo, três atrás de Cafu e Dunga, que foram 11 vezes cada. Foi um dos capitães na última edição, quando a seleção teve três diferentes em cinco jogos: Marcelo, Miranda (duas vezes) e o próprio Thiago (duas vezes).
A ideia da comissão técnica dessa vez é gerar uma maior identificação nas diversas faixas etárias de jogadores. Se Thiago Silva é o "vovô" do grupo ao lado de Daniel Alves e impõe respeito, Neymar é a referência técnica e internamente tem o papel de liderar os mais jovens pelo exemplo, já que nomes como Vini Jr, Rodrygo e Martinelli o veem como ídolo e inspiração, apesar de ter apenas 30 anos.
— A situação pode estar um pouco pior, ele sempre joga o grupo pra cima, dá confiança, considero isso muito importante. É carismático, acostumado a conviver com grandes líderes, é a principal arma dele em termos de liderança — atestou Danilo, que pertence à geração do meio, com os seus 31 anos.
— Vejo nessa geração jovem um senso de responsabilidade que não tinha visto antes. Isso faz diferença — acrescentou o jogador da Juventus, da Itália.
Apesar disso, o papel clássico de um capitão ainda é de Thiago Silva. É o defensor que tem mais entrada junto ao técnico Tite e sua comissão, sobretudo os auxiliares Cleber Xavier e César Sampaio. O zagueiro inclusive os acompanhou em um jantar na folga em Turim, sexta-feira, quando esteve também em uma partida de tênis com os profissionais e o diretor de seleções Juninho Paulista. O comportamento e os gostos mais reservados não impedem Thiago de exalar juventude nas brincadeiras e cantoria no vestiário junto aos mais jovens. Talentoso com o pandeiro, é o veterano que não deixa, literalmente, o samba morrer. Na chegada ao hotel em Doha, se deparou com as fotos de criança que a organização do evento colocou no quarto de todos os jogadores. Quase que em tom de despedida, postou:
“Moleque cheio de sonho, olha onde você chegou”.