Na última sexta-feira (04), a Associação Desportiva Comunitária de Campo Limpo, enviou do núcleo ADC Mauá de Feira de Santana na Bahia para o Mauá FC, quatro atletas e nos próximos dias mais sete atletas estarão indo para o clube paulista.
Para saber mais disso, o Futebol em Foco conversou com o Jefferson Roberto, gestor da Associação. “No momento estamos enviando 11 atletas para o clube paulista Mauá. Na última sexta-feira mandamos os quatro primeiros, nos próximos dias estaremos enviando os próximos sete, é uma parceria que fizermos para sermos núcleo oficial do clube paulista aqui no Nordeste”, adiantou.
De repente, você esteja as perguntando o que é a ADC, e como um projeto social pode lapidar tantos talentos no mundo do esporte. Como falei anteriormente, Jefferson Roberto bateu um papo com a gente, então fica com a gente aqui.
Como surgiu a Associação Desportiva Comunitária (ADC)?
De acordo com Jefferson, a Associação nasceu de um grupo de amigos que tinham uma recreação de futsal duas vezes na semana. “Era um grupo muito qualificado e aí nós fomos convidados a participar do campeonato feirense de futsal, como a gente ainda não era uma instituição éramos apenas uma associação convencional, nós ficamos meio que receosos em participar de uma liga onde a gente não era registrado, mas aí o presidente da liga na época o saudoso Cláudio Boaventura nos deu a liberdade de começarmos campeonato como convidados e que até o final do campeonato a gente poderia representar a nossa instituição já formada”, contou.
Esse inicio aconteceu em 2013, foram vice-campeões no campeonato feirense, esse campeonato que lhes deu a oportunidade de disputar um torneio campeonato estadual, onde reuniu mais de 80 cidades, 2 mil atletas envolvidos, chamada Copa Sertaneja. “Fomos campeões e fomos para a final e nos consagramos campeões gerais, a partir daí fomos convidados a mesclar com um clube, disputamos o baiano e chegamos nas semifinais. Então, aí a gente percebeu que deveríamos nos tornar uma instituição.
Então tudo continuou crescendo, em 2016 a ADC Campo Limpo foi registrada, e em 2017 receberam o título de utilidade pública municipal. E ainda em 2016 nasceu a principal atividade que é o projeto Dente de Leite, e foi assim que a associação iniciou a sua vida.
Projeto Dente de Leite
A Associação Desportiva Comunitária desenvolve várias atividades no âmbito esportivo como também na área da saúde. As modalidades que estão dentro do projeto Dente de Leite é futebol, futsal, natação, karatê, jiu-jitsu. E para adultos, hidroginástica e pilates, todas essas atividades os atletas são acompanhados por profissionais da educação física e saúde. “O nosso principal objetivo é formar cidadãos, e temos como meta ser o maior clube olímpico da Bahia”, disse Jefferson.
Segundo o diretor do projeto, em seu sexto ano de existência o projeto Dente de Leite, é a principal atividade da Associação Desportiva Comunitária de Campo Limpo. “Como posso dizer é a cereja do bolo, é um projeto que tem resgatado e gerado oportunidade para muitas crianças, tirando do caminho da marginalidade, das drogas e da violência”, pontou.
“Hoje a Associação ela trabalha em três níveis: Nível de iniciação esportiva, dentro do projeto social Dente de Leite, temos o nível intermediário que chamamos de alto rendimento, onde preparamos atletas para inserir no mercado futebolístico nacional e internacional. A nossa maior prova e o nosso atleta Renato Silva que jogou pelo Flamengo de Guarulhos, Ponte Preta, Cuiabá e hoje está jogando no General Cavalheiro no Paraguai. Nós tivemos também outros atletas que passaram pela gente e jogaram na Turquia, é o caso do Silvano Neto, o Tarcísio Lima que também jogou no exterior, e tem sido maravilhoso. E também fruto do projeto Dente de Leite temos mais de 8 atletas profissionais espalhados por diversos clubes do Brasil”, completou Jefferson.
Já passaram mais de 4 mil alunos no projeto Dente de Leite em todas as suas edições, no último ano do projeto que foi no final do ano passado, o projeto chegou a ter 650 crianças fazendo esporte em várias modalidades e em média de 80 a 100 fazendo parte de pilates e hidroginástica.
“No primeiro ano que foi um ano muito impactante, nos tivemos mil pessoas envolvidas diretamente dentro do projeto. Temos já muitos atletas que já foram e que estão em clubes, nos meados agora do ano, saíram do projeto mais de 25 alunos para clubes de São Paulo, no Maranhão através da parceria com a TH3, colocamos lá 3 atletas. Temos atletas no Sergipe, São Paulo, Bahia, então são muitos atletas espalhados”, falou Jefferson, coordenador do projeto.
Conquistas dentro e fora de campo
Nesses poucos anos de história da Associação foram muitas conquistas, tanto a nível de campo como principalmente extracampo. Dentro de campo a maior conquista foi a Copa Sertaneja, além de campeonatos e copas. “No final do ano participamos de 4 competições aqui na Bahia, e ganhamos todas, então é um trabalho qualificado onde tem gerado muitos frutos, temos feito captação de atletas de bons níveis técnico o que nos dar uma condição de termos um dos melhores trabalhos de divisão de base da cidade e um dos maiores da Bahia”, detalhou.
“Recentemente fomos participar de uma competição infantil sub-15 e sub-17 da cidade de Pé de Serra onde tinha observadores de vários clubes, e dois atletas nossos chamaram muito atenção, os observadores ficaram muito interessados, mas já tínhamos o compromisso de mandar esses atletas pra São Paulo, e assim fizemos. Nossa maior conquista, é transformação de vidas, de jovens que estavam sem perspectivas, a margem da sociedade, bem próximo da marginalidade e das drogas e ver esses jovens sonhando e buscando novos horizontes e objetivos isso é a maior conquista que nós temos”, disse ainda.
Uma das grandes conquistas mencionadas por Jefferson Roberto é o atleta Renato Silva, que passou por muitas dificuldades e com o apoio do projeto hoje joga em um grande clube mundial. “Um menino que nós encontramos praticamente abandonado e hoje joga em um grande clube mundial, sendo bem remunerado e que logo se tornará um milionário no mundo do futebol devido a um contrato que ele fechou no exterior”, contou.
“Outra grande conquista no projeto foi ver um jovem que já estava inserido na criminalidade, já vinha sendo usado por traficantes para fazer entregas de drogas, cheio de mazelas espirituais e psicológicas, e a gente interveio na vida desse jovem dando auxilio nutricional, auxilio psicológico, social, mostrando a esse jovem que existe outros caminhos além da marginalidade, e pra mim particularmente a maior conquista foi ver esse jovem hoje já jogando em clube e sendo um dos líderes do projeto, liderando outros atletas. Pra mim essa é a maior conquista até hoje da ADC. Essas são conquistas de dentro e fora de campo”, contou ainda Jefferson.
O Momento
Até o ano passado os alunos não tinham custos, que é um projeto social. Apenas os atletas do alto rendimento tinham custos que devido a pandemia a associação teve que alugar um espaço para as atividades. Dessa forma, tiveram que levantar um valor, que é um valor muito baixo para os atletas pagarem. “Esses alunos do alto rendimento além deles terem acompanhamento multidisciplinar na área de saúde eles tem academia, professores qualificados, material esportivo de primeira”, disse.
A partir desse ano haverá uma taxa simbólica para o projeto Dente de Leite e o Alto Rendimento. “Já que a gente não encontra políticas públicas nem editais para que a gente possa escrever o projeto e captar recursos, como o próprio nome da associação diz, não visamos lucro, mas visando manter porque até então eu que vinha mantendo o que gerou muitas dificuldades, pontou também o gestor.
O Futuro
“O nosso projeto para o futuro e um futuro bem próximo e termos o nosso espaço físico, nosso centro de treinamento totalmente desvinculado de espaços públicos porque a gente sabe a dificuldade em ter um espaço público, já que são poucos espaços e por conta da pandemia os espaços estão sendo fechados fazendo com que a gente não desenvolva as nossas atividades no momento”, disse.
Segundo ele o plano é ter o próprio espaço, seja próprio ou terceirizado, mas que seja de forma particular para que as atividades sejam desenvolvidas sem esses entraves. “Vai ser muito impactante para a cidade, para o estado e até um referencial para o Brasil. Então a gente tem uma perspectiva de futuro muito ousada de mostrar que é possível sim fazer o esporte, que é possível fomentar boas ações e quem sabe a gente seja assim um referencial para que as políticas públicas alcancem a todos de forma igualitária e mostrando essa nossa luta, mostrar que é possível fazer esporte com baixo custo já que com tão pouco a gente faz tão muito”, disse ainda.
Questionamos a palavra que define tudo isso na vida de Jefferson e ele disse ser honra. “A palavra seria honra, porque eu venho através do projeto honrar a Deus de um voto que eu fiz com Ele quando eu parei de jogar futebol, onde tinha muito para crescer no futebol, mas infelizmente eu estava sozinho. Então eu fiz um pacto com Deus de que seria para esses jovens o que eu não tive. Então, hoje eu me sinto honrado”, finalizou.